3 de maio de 2018

3ª Conferência de Lisboa

Intervenção na abertura da 3ª Conferência de Lisboa


Senhor Presidente da República
Senhor Doutor Guilherme de Oliveira Martins, em representação da Senhora Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian
Senhores embaixadores
Caros oradores e convidados para esta Conferência,
Caros amigos

Começo, naturalmente, por agradecer, em nome do Clube de Lisboa, que organiza este encontro que tenho o gosto de dirigir, a amabilidade que o Senhor Presidente teve ao conseguir encontrar tempo, na sua carregada agenda, para nos honrar com a sua presença, nesta sessão inaugural da 3ª Conferência de Lisboa.

Conhecendo-o, Senhor Presidente, sei que a sua adesão a um evento desta natureza, em cuja substância se situam temáticas que lhe não são indiferentes, é sincera e empenhada. Mas, nem por isso, deixo de reiterar o meu profundo agradecimento pelo prestígio que a sua presença hoje nos traz.

Uma vez mais, queremos agradecer à Fundação Calouste Gulbenkian, na pessoa do meu querido amigo Guilherme de Oliveira Martins, a generosidade do seu acolhimento. A Gulbenkian nunca nos falha, aliás, a Gulbenkian nunca falhou a este país.

Uma palavra de reconhecimento é devida às diversas instituições que se prontificaram a ajudar à organização deste encontro, contribundo da mais variada forma. O seu nome está assinalado nos documentos que hoje distribuímos.

Mas não posso deixar de destacar, dentre essas mesmas entidades, duas que, de um modo muito particular, sempre deram um contributo decisivo para que estas Conferências fossem possíveis: o Ministério dos Negócios Estrangeiros e a Câmara Municipal de Lisboa, cujos titulares estarão presentes amanhã no encerramento dos nossos trabalhos.

Finalmente, “last but not least”, quero deixar uma palavra de grande apreço pelo esforço de todos os oradores, alguns vindos de bem longe, e que, sem a menor retribuição financeira, e apenas pelo gosto de participarem neste exercício, aqui estarão a partilhar o seu saber connosco. A eles, muito em especial, muito obrigado.

Não sei como os intérpretes vão conseguir traduzir isto, mas eu gostava de dizer que as Conferências de Lisboa são uma espécie de “sopa da pedra”, feita de generosidades, de boas vontades e, quero também crer, do interesse genuíno em ir mais longe no debate de ideias sobre as grandes questões globais, em que todos estamos empenhados. Fazemos estas reuniões a cada dois anos, variamos a temática central, mas não temos alterado um conceito de fundo que aqui nos motiva: o desenvolvimento.

Porquê o desenvolvimento?, num tempo em que, por vezes, deixamos de ouvir a palavra com a intensidade que ela teve em períodos não muito distantes, durante os quais motivou iniciativas de grande vulto, à escala mundial, encheu bibliografias e alimentou doutrinas. Precisamente por isso. Precisamente porque continuar a lutar pelo desenvolvimento daqueles que, à escala global, não o partilham com os mais afortunados, tentar manter o conceito bem alto na agenda internacional de prioridades, é talvez o melhor testemunho de um espírito de solidariedade que desejamos que Portugal, e esta cidade saudavelmente aberta que é Lisboa, devem saber alimentar e aprofundar.

O Clube de Lisboa, que, de forma totalmente benévola, promove estas Conferências, tem precisamente como objetivo contribuir para ajudar a transformar a capital portuguesa numa nova centralidade de reflexão sobre os grandes temas que atravessam a sociedade global.

Chamámos a esta 3ª Conferência, “Desenvolvimento em tempos de incerteza”. Por definição, os tempos são sempre incertos, mas já houve tempos em que a incerteza era menor. Hoje vivemos dias em que as interrogações sobre o futuro, mesmo o futuro próximo, se acumulam.

Desde logo, em termos do poder mundial, tema que vai ocupar o nosso primeiro painel. A atitude dos principais atores globais tem hoje “nuances” que induzem fortes tensões no cenário internacional, pondo em causa equilíbrios que tínhamos por adquiridos e, muito em particular, colocando em risco os mecanismos multilaterais, corpo institucional que regulava o que pensávamos serem os caminhos irreversíveis do futuro.

Essa instabilidade nas relações de poder conduz ao surgimento de novas ameaças à segurança, assunto que o segundo painel do dia vai abordar.

A segurança, nas suas várias declinações, é uma questão essencial para a estabilidade psicológica das sociedades. É a falta de segurança, melhor dizendo, a perceção de insegurança que induz facilmente tropismos populistas e a captura das vontades para agendas radicais.

Uma dessas inseguranças, bastante visível nas suas consequências políticas na maior potência do ocidente, assenta nos “descontentes” da globalização, para utilizar a velha expressão que Stiglitz já usava em 2001. É precisamente uma reflexão sobre a globalização e sobre as dúvidas que alguns colocam sobre a sua irreversibilidade, que ocupará o nosso último painel no dia de hoje.

Amanhã começaremos o dia falando da nossa casa comum, do planeta, das lutas da sustentabilidade, do clima e das transições energéticas que aí estão.

E tentaremos, no saldo das incertezas que acumulámos, perceber como estão nas nossas sociedades, nestes tempos estouvados, para utilizar uma expressão que sei ser cara ao senhor presidente, as pessoas, nas suas angústias e temores, nas suas dúvidas e na sua crescente propensão para soluções limite, que põem em risco a democracia e os direitos. Nesse contexto, o destino das classes médias é uma pista para reflexão que está ficada no debate.

Terminaremos amanhã os nossos trabalhos falando da Europa, desse continente que, em termos de expressão organizada e eficaz de poder, recebe sistematicamente o Óscar para o melhor ator secundário. Onde estamos, na Europa?

Ainda navegamos no mesmo barco ou só fingimos que pertencemos ao mesmo clube? O que é feito dessa Europa ética que pretendia ser um “benchmark” para o mundo? Que é feito, por exemplo, da Europa farol das políticas de desenvolvimento?

E aqui regresso onde comecei. “Desenvolvimento em tempos de incerteza” é, hoje e amanhã, o desafio que o Clube de Lisboa aqui vos lança. Espero que aproveitem o debate e que estejam atentos, no futuro, às diversas atividades que vamos promover. Teremos o maior gosto em vê-los por lá.

Muito obrigado pela vossa presença. Tenham uma boa Conferência.