10 de abril de 2019

Olhar Viana

Se alguém perguntar, pelo mundo, qual é o mais típicotraje folclórico português, estou certo de que o traje de Viana será a resposta mais provável. O vestuário das lavradeiras minhotas, nas suas múltiplas e subtis declinações locais, completado pelo ouro que o orna, éhoje um dos melhores cartões de visita de Portugal. 

Na Romaria de Nossa Senhora da Agonia, no mês de agosto de cada ano, a cidade é um mar colorido dessesfatos típicos de mulher – porque, em Viana do Castelo, a mulher é claramente a rainha da festa. Com predominância dos vermelhos, os azuis, os verdes e os negros, com outros tons à mistura, enchem as ruas de um matiz singular. Tenho para mim que o mais interessante neste orgulho identitário está na circunstância das novas gerações estarem já conquistadas para a importância de continuarem esta tradição. 

Vivo as festas de Viana há dezenas de anos. Não nasci na cidade, nunca ali residi, mas a naturalidade vianense do meu pai faz-me ser um visitante tão frequente que já me sinto parte da terra. Tenho vindo a acompanhar, nas últimas décadas, o crescente interesse que a cidade dedica a este seu tempo celebratório em que, por todo o lado, se espalha o ambiente daquela que é a maior Romaria de Portugal. Com isso, o artesanato, que já era famoso, renovou-se com imenso bom gosto.

Comecei por falar das festas anuais. Mas Viana, convém que o leitor saiba, não é só esse tempo festivo, em que as ruas estão cheias e há música – ah! e os famosos bombos! – um pouco por todo o lado. É que Viana do Castelo, ao longo de todo o ano, é uma urbe que merece uma visita cuidada.

A cidade é um feliz acaso de conjugação perfeita do monte com o mar, com as praias, com o porto de onde, em tempos passados saíam para as costas da Terra Nova os navios bacalhoeiros – trazendo o bacalhau, esse produtoque se tornou icónico na gastronomia portuguesa.

Começar por olhar Viana do Castelo do alto do monte de Santa Luzia, que tem no topo um santuário que a alguns lembra o parisiense Sacré Coeur, é um espetáculo único, em particular nos dias em que se pode observar o estender longínquo do vale do rio Lima, a areia das praias que seguem para o sul e a suave paisagem verde que, para norte, acompanha o caminho para a fronteira espanhola.

Aconselho a que o viajante se perca pela cidade, pelas ruas medievais estreitas, que olhe os solares magníficos, parando nas esplanadas dessa jóia de harmonia que é Praça da República. Desça depois para o rio, visitando de passagem as igrejas, passeando pelo jardim público.Alguém que encontre lhe dirá onde se come melhor, sendo que a doutrina se divide sempre nos gostos, que só parecem ser unívocos em matéria de doçaria.

O visitante que chegue a Viana não tem dificuldade em alojar-se: a cidade, turística por excelência, tem uma magnífica rede hoteleira, com belas surpresas para quemqueira experimentar espaços menos standardizados. Nada ali falta, para uma estada agradável.

Amália Rodrigues, a famosa cantora de fado português, fixou para sempre, naquele que se tornou no hino informal da cidade, a frase “havemos de ir a Viana“, assim expressando o desejo antigo dos habitantes das aldeias do Minho de poderem vir a fazer parte da grande Romaria anual à cidade. Cada vez mais, o país e o mundo concretizam esse desejo, pelo que Viana do Castelo se tornou numa das cidades portuguesas com uma particular atratividade turística.

(Texto para a revista “Viana do Castelo”, da Câmara Municipal de Viana do Castelo)