16 de abril de 2011

La Lys

Esta é a segunda vez que, como embaixador de Portugal, tenho a honra de estar presente nas cerimónias que comemoram o sacrifício dos nossos soldados na batalha de La Lys.

Tal como muitos portugueses que se orgulham da sua História, eu tinha já estado aqui antes, há mais de 40 anos, como cidadão, numa homenagem pessoal aos combatentes portugueses que deixaram a sua vida por estas terras, em defesa da liberdade da Europa.

Cada vez mais, há portugueses a visitar La Couture e Richebourg, pelo interesse em conhecerem um dos locais por onde também se fez o percurso histórico do nosso país.

Nós, os portugueses, somos conhecidos por ter um grande orgulho na nossa História. Algumas razões temos para isso.

Somos um dos mais antigos países do mundo, com fronteiras reconhecidas desde do século XII. Portugal vive em democracia constitucional desde 1820, com exceção de um período de ditadura, que teve de sofrer no século passado. Orgulhamo-nos de ser o primeiro país do mundo inscrever a abolição da pena de morte na nossa lei constitucional, em 1867. Victor Hugo escreveu então: “A Europa imitará Portugal”. E assim foi.

Temos uma História que atravessou oceanos, que espalhou uma língua que é hoje universal e que nos levou a muitos lugares, onde hoje temos muitos amigos e uma imagem de país fraterno.

Foi também a História que nos trouxe até La Lys. Foram os interesses na defesa de Portugal, e dos valores que Portugal entendia então que deviam ser defendidos no cenário europeu, que conduziram à nossa participação na 1ª guerra mundial, ao lado da França e de outros países aliados.

Esses tempos, os tempos da batalha de La Lys não foram tempos fáceis em Portugal. O meu país vivia então o início da sua República – verdadeiramente, o segundo regime republicano criado na Europa, depois da República Francesa.

A participação na 1ª guerra mundial foi um tema que marcou muito a sociedade portuguesa, que passava por um período de alguma convulsão política, muito natural no início de um novo regime. O pesado sacrifício que foi exigido às tropas portuguesas que para aqui vieram não deixou de ter um impacto profundo em Portugal, gravando-se para sempre na nossa memória nacional. E o saldo dessa aventura militar marcou igualmente o futuro do regime republicano português.

Esse regime comemorou, no ano passado, o seu centenário. Em todas essas comemorações esteve bem presente o esforço do Corpo Expedicionário Português por estas terras da Flandres. As imagens, a preto e branco, dos soldados portugueses nas trincheiras de 1918 fazem parte do simbolismo da nossa República e estão ligadas para sempre à nossa História.

A missão que trouxe o meu país a La Lys foi a primeira em que as nossas tropas participaram em ações fora daquilo que era então considerado Portugal – o território continental europeu e as colónias espalhadas pelo mundo. Esse mundo mudou muito, deste então.

Portugal não esteve envolvido na 2ª guerra mundial, mas as Forças Armadas portuguesas, na segunda metade do século XX, foram chamadas a disputar três guerras coloniais simultâneas, em cenários africanos.

Hoje, as Forças Armadas portuguesas, para orgulho do país, estiveram e estão envolvidas em várias missões de paz, um pouco por todo o mundo, na defesa dos princípios que marcam a nossa política externa. A promoção da paz e da segurança, à escala internacional, fazem parte da imagem de marca de Portugal, que também desempenha importantes responsabilidades no seio do Conselho de Segurança da ONU, para o qual foi recentemente eleito, por força do prestígio e confiança que o país ganhou à escala mundial.

E permitam-me que use este momento para saudar, em nome das autoridades portuguesas, o papel que as Forças Armadas frandesas desenvolvem hoje em três teatro de guerra, dando cumprimento a mandatos internacionais.

Não obstante as dificuldades conjunturais que atravessa, com uma crise económico-social complexa, o meu país mantém a mesma determinação de continuar a contribuir, à medida das suas possibilidades, para a preservação dos valores da liberdade e da dignidade dos povos. A mesma liberdade e a mesma dignidade que os valentes soldados que morreram em La Lys nos ensinaram, com o seu exemplo, a saber respeitar.

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