1 de setembro de 2010

Porquê o Português?

Se olharmos para as últimas duas décadas da diplomacia dos países lusófonos, facilmente verificaremos que a promoção da língua portuguesa começou a definir-se como um dos eixos comuns da respetiva ação externa. Muitos poderão ver nisso uma reação afetiva face ao próprio idioma, fruto do fim dos traumas coloniais e da recuperação de uma matriz cultural que liga esses países. Não deixa de ser verdade que esse é um elemento a ter em conta, mas não é o único.

A criação da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) não nasceu apenas pela necessidade de institucionalizar um qualquer laço afetivo entre os que se comunicam à volta do Português. Cada vez mais, os países dão-se conta que, para terem peso à escala global, têm de estruturar novos modelos de articulação político-diplomática. Para tal, têm de os fazer assentar em terrenos que afirmem uma identidade específica, que possa ser valorada como tal. A língua e a cultura são uma área de excelência para a afirmação dessa identidade.

Se fosse necessária uma prova para o “poder da língua”, bastaria lembrar que o Brasil, que durante muitas décadas não se preocupou excessivamente com a promoção do Português, aparece hoje – num momento em que as suas legítimas ambições de potência se afirmam com vigor – como um dos principais divulgadores da nossa língua comum, insistindo, por exemplo, na sua consagração nas organizações multilaterais e no seu ensino nos países vizinhos.

Com isto quero dizer que o conhecimento da língua portuguesa é hoje, para além de um registo importante de memória e de culto de identidade, um instrumento que permite, a quem o possui, aceder a um espaço muito interessante no quadro das grandes línguas internacionais de cultura. Há no mundo línguas que são muito mais faladas do que o português – como o chinês, as línguas hindustânicas, o árabe ou o russo – mas nenhuma delas tem uma expressão cultural universal à escala do português. A este só se comparam o inglês, o espanhol e o francês, sendo que, desta última língua, há muito menos falantes nativos que do Português.

Falar Português é um valor acrescentado na sociedade moderna, tanto mais que a nossa língua permite um acesso relativamente fácil ao espanhol. Se hoje olharmos para o mundo económico internacional, facilmente deduziremos das vantagens que derivam, para um qualquer cidadão, de saber falar português.

Os luso-descendentes têm assim todo o interesse em garantir, lado a lado com o francês e com a língua franca universal que é hoje o inglês, conhecimentos básicos da língua portuguesa. Se devem aprender a língua como materna ou como idioma estrangeiro, essa já é uma questão técnica que haverá que discutir.

* Publicado na revista "CAPMAG", nº 192, Setembro de 2010