Um país com uma longa História, como é o caso de Portugal, atravessou momentos difíceis ao longo da existência: perdemos, por algum tempo, a nossa independência, largámos um império que garantiu riqueza, crises económicas provocaram sucessivos ciclos de emigração, tivemos guerras e instabilidades políticas e sociais. Algumas revoluções, de sinal contrário, reorientaram, em certas alturas, a vida do país. Mas, como se prova, Portugal por cá continua, há quase nove séculos!
A crise económico-financeira que nos marca o quotidiano, e que compreensivelmente angustia muitos dos nossos compatriotas – em especial os que sofrem o desemprego, cortes salariais, falências e pobreza -, é mais um tempo no destino de um país que é, de há muito, o mais pobre de toda a Europa ocidental, muito embora a nossa pertença à União Europeia possa ter iludido essa dura realidade.
Nos dias que correm, Portugal recorre a instâncias internacionais para obter um empréstimo financeiro – não uma dádiva! -, a taxas de juro na média normal do mercado europeu, a fim de poder corrigir desequilíbrios que afectam as suas contas públicas. Essa contribuição, limitada no tempo, é a outra face da abertura do mercado português aos produtos, serviços, capitais e cidadãos dos seus parceiros comunitários. Se vivemos num mercado único, de que os estrangeiros beneficiam, é de esperar uma solidariedade nos momentos menos fáceis que um país atravessa.
Por forma a corrigir os problemas com que o país se defronta, Portugal vai colocar no terreno um exigente programa de reformas internas, destinado a reconverter a máquina do Estado, a racionalizar procedimentos e gerar poupanças que possam colocar o país a gastar ao nível daquilo que realmente são as suas riqueza e produtividade. Esse programa terá fortes incidências sociais, algumas das quais se repercutirão sobre importantes sectores da população.
O sentido de responsabilidade das forças políticas que, em Portugal, têm legítimas expectativas de poderem exercer responsabilidades governativas, levou a que subscrevessem esse compromisso com as entidades financiadoras internacionais. Foi um gesto de coragem política, porque esses partidos sabem que a implementação de tais medidas vai provocar algum mal-estar e descontentamento públicos, com consequências futuras na sua própria popularidade.
A crise política desencadeada no auge desta crise financeira obrigou à realização de eleições legislativas antecipadas, que terão lugar no dia 5 de Junho. É muito importante que os portugueses que hoje têm possibilidade de, com o seu voto, escolherem aqueles que entendem que devem conduzi-los no futuro imediato, utilizem plenamente essa forma de expressão de vontade cívica. Quem não vota, quem opta por não escolher as pessoas que vão orientar o seu destino, perde legitimidade para se queixar das políticas que vierem a ser seguidas pelos decisores.
(Publicado no nº 201 da revista CAPMAG, da associação Cap Magellan, Junho 2011)
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