11 de setembro de 2011

O dia seguinte

Nova Iorque acordou para um pesadelo a 12 de Setembro de 2001. A véspera fora, porventura, o mais longo dia da história contemporânea da América. Todos quantos vivíamos naquela cidade nunca esqueceremos os passos que então demos, desde a manhã da tragédia até à noite de todas as interrogações que se seguiu.

Mas nós éramos estrangeiros, por mais solidários que estivéssemos com as vítimas da barbárie. Os americanos acordaram diferentes, numa pátria agredida, com uma raiva incontida, feridos no orgulho e na carne, por uma violência implausível e sem paralelo.

Nova Iorque fora, até 11 de setembro, uma cidade tolerante, aberta, com regras fáceis e um estilo de vida que seduzia europeus e chegava a intrigar muitos americanos. A forte presença de várias comunidades, de muitos credos e cores, transformara a cidade numa espécie de Nações Unidas nas ruas.

Para os americanos, com a queda das torres ruíra parte da confiança íntima de um povo que se olha a si próprio de uma maneira especial, nessa cultura nacionalista feita de religião, heróis e de um sentido de destino. Nunca a América vivera sob o medo interno e isso reflectiu-se na mudança que se vislumbrava no olhar das pessoas que cruzávamos, escrutinando os que pressentiam diferentes – pelo trajes, pela raça, pelo simples aspecto, pelo facto de não trazerem na lapela ou não colocarem na janela a sua bandeira.

A América cresceu com o sofrimento do 11 de setembro. E mudou. Obama é talvez a melhor prova disso.

Publicado no "Correio da Manhã"

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